sábado, junho 30, 2007

Pequenos Textos

Não

Texto de Eduardo Baszczyn



"olhando o quarto, entre os cabelos caídos sobre o rosto, ela procura os comprimidos. pelas gavetas. nos armários. descalça, pés pretos, ela agora desobedece. contraria a infância higienizada e protegida. a meninice desinfetada. de chãos limpos. pisos brilhantes. cheiro de pinho. a vida de regras. de pode-não-pode. de coisas proibidas. a vida de nãos. não solte as tranças. não fale com estranhos. fique longe das tomadas. não deixe comida no prato. não suje o vestido. não fale palavrão. não caia do balanço. não ouça música alta. leia apenas os clássicos. não bata no seu irmão. só coma coisas verdes. não trepe sem casamento. não use drogas. não responda seus pais. respeite seus professores. não beba gelado


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segunda-feira, junho 18, 2007

Video Amor Proibido

Um amigo meu fez com meu Texto....


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sábado, junho 16, 2007

Baseado em Personagens Reais - II

Era um homem dedicado ao destino, fiel, comprometido com a dor. Perdeu a esposa aos quarenta e chorou para sempre. Fim de ano, os filhos traziam alguns presentes para pausar sua melancolia. Depois, rendidos, iam embora carregando consigo a própria saudade. No trabalho, discutia a todo tempo com a solidão, de maneira impiedosa. E ela escutava tudo, sem reclamar. Até que finalmente ele e a solidão saiam para aliviar a relação no boteco. E quando a tarde enfraquecia, voltavam os dois abraçados em embriaguez pelo caminho de casa. Já iam mais de três anos, me peguei bem próximo e não resisti, perguntei se não restava nada. Ele cutucou com os dedos a memória de forma semi-engraçada e foi a única vez que nasceu algo desse sujeito que me fez rir. Respondeu que havia uma esperança num lugar intocável, bem guardada. Tão bem guardada que provavelmente já esquecera onde pôs, deduzi, juntando um pouco de compaixão. Não lembro qualquer outra prosa. Lembro que tinha lá sua postura mais ou menos elegante de curvar o corpo ao caminhar. E reconheço que cultivei uma certa admiração por sua sabedoria individual. Individual porque era sábio consigo, mas os outros pouco percebiam. Ele tinha a inteligência de enganar seu próprio desespero com uma tranqüilidade misteriosa que nascia em volta das rugas dos olhos e ia até os dedos, esticados, em sono profundo. 

Lembro também de tê-lo visto um pouco antes da notícia, sentado numa esquina, se exibindo para a timidez. O copo de cerveja sempre de mãos dadas com ele. Nada mais posso narrar sobre o momento, é uma pena. Na verdade, a vida já o tinha deixado há muito tempo, o tempo que se atrasou em pedir que a morte viesse ocupá-lo.

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terça-feira, junho 12, 2007

Danii






Decifre o acaso para adivinhar nosso destino. Observe o dia que te pede atenção. Não leve o tempo a serio, jogue fora o relógio, chegue mais perto. Vamos brincar de ter treze anos. Sorria. Conte-me tudo que já viveu, mas não tenha pressa. Repita isso que acabou de fazer. Faça algo que nunca pensou antes. Ajude a nutrir este meu vício infantil de exagerar. Sorria, Danii, eu sei que você também gosta de sonhar meus sonhos. Coloque nossas musicas para tocar, lembre nossas palavras, não esqueça dos espaços vazios entre as palavras. Nosso silêncio também deixou suas marcas, Danii. Sorria. Preste atenção quando eu não te disser nada. Esqueça que já teve medo, esqueça todo o resto, seja educada com o dia que te pede atenção. Ofereça algo para retribuir. Feche os olhos, feche-os e enxergue um pedaço de história. A história que só nós dois conhecemos os detalhes. Só nós somos donos de nossos detalhes, Danii, sempre seremos, perceba o que acontece, sorria. Esqueça que já teve medo, aprenda tudo novamente. Depois me ensine o que aprendeu. Chegue mais perto, viaje no tempo, daquele dia até o momento, viaje até agora. Até aqui.

Sorria, Danii, hoje é dia dos namorados.



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sexta-feira, junho 08, 2007

Pedaços de Histórias - I


O Bolo
Rompeu com a covardia. Procurou a coragem. Marcou encontro, dia, horário, lugar. Finalmente iria conquistá-la. Como sempre sonhou.
Mas a coragem faltou.

***


Descanso
Nada mais poderia impedi-lo. Jogou fora o celular, as roupas, tudo que lembrasse que ele era ele, até o próprio corpo. Nunca havia juntado um sentimento tão grande de liberdade, e o contraditório é que, como nunca, sentia-se ele mesmo. Ainda não escolheu destino, talvez a mente de uma criança por perto, ou uma ave distante pra conhecer novas formas de vida. O que importa é partir logo. Um pouco de concentração, novas idéias, whisky na bagagem para qualquer emergência. Há anos ele estava tentando tirar férias dele mesmo.

***

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sexta-feira, junho 01, 2007

Antes do Adormecer



http://1.bp.blogspot.com/_cGQ_XZb1wn4/RdwgWlR489I/



Gesticulava com a cabeça expressando consentimento, mas não interesse. Olha, aqui você guardará suas roupas, está vendo? E aqui os brinquedos. Na prateleira, guardará o material escolar. Viu quanto espaço? Olha só a cama, olhou, a bancada, olhou. As paredes ardiam em tinta fresca. Pintamos em azul, gostou? O chão brilhando, móveis novos, nada o despertava atração. Bastou um vacilo e distraiu-se propositalmente da voz da mãe e foi então que os pais repararam e inquietaram-se. De curiosidade, e de surpresa, e mistério bobo, e não estou certo disso, mas talvez tenha existido uma pequena dose de indignação ou desilusão misturada na fisionomia do casal. Olhava para o teto. Ele olhava colhendo alguma expectativa, forçando apenas o olho esquerdo, o direito continuava aberto um pouco triste, como se estivesse avaliando intimidade, ou falta dela, enquanto os pequenos dedos escapavam pela mão materna, suada - agora finalmente quieta por causa a cena -. Era uma expressão precisa, e digna de estudo. O teto. Vazio. Os adultos continuavam estupefatos e comungavam um silêncio embaraçado. Não reagiram por um instante até que a iniciativa do pai remediou o clima. Vamos ver o quarto da mamãe e do papai agora? E assim, por insensibilidade ou por velhice ele foi interrompido de sua própria ingenuidade, e ignorado de sua insegurança. Foi subestimado de seu gesto que olhava para o mundo dos pequenos, que eles esqueceram que existia. O mundo que não tinha nada haver com aquilo ali, que na verdade significava muito.

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