Palavras Mudas - V
O ruído do ar-condicionado era impróprio ao silencio apreensivo do carro. Ele apenas aguardava as palavras dela, como quem aguarda uma sentença. Esperou. Esperou. A falta de diálogo aumentava seu incomodo, mas nada disse. O momento despertava insegurança, mas conteve a emoção em algum lugar incerto entre a garganta e o peito. A ausência de palavras dela o confundia. Os olhos que ele aprendera a desvendar carregavam uma paz incompreensível, pensou. Ela o tocou. Delicadamente, para somar surpresa. Respirou sem pressa. O olhou sem medo. E juntou à face uma daquelas expressões femininas indecifráveis, indescritíveis. Não era raiva. Mas também não sorria. Ele apenas continuou assistindo aos seus movimentos, tranqüilos. No fim de alguns segundos ela voltou a se mexer. O beijou, com sutileza. Na face. E saiu do carro calmamente ao invés de falar algo, virou de costas em vez de dizer adeus, encostou a porta em vez de batê-la. Ele continuava imóvel. Calado. E já não era mais forte o suficiente para esconder a emoção. Como poderia agir dessa maneira, como se nada estivesse acontecendo? Neste instante, só lhe restava observar, pela ultima vez, o andar lento dela até a porta de sua casa, o mesmo de sempre. O beijo tinha sido a despedida.
Era um fim de tarde cinza de domingo, a rua estava vazia, o vento forte anunciava a previsão de chuva para o começo da noite. Antes de dar partida ao carro e inundar seus olhos, ele pensou alguns minutos consigo. Nunca se sentira tão agredido em toda sua vida.
Era um fim de tarde cinza de domingo, a rua estava vazia, o vento forte anunciava a previsão de chuva para o começo da noite. Antes de dar partida ao carro e inundar seus olhos, ele pensou alguns minutos consigo. Nunca se sentira tão agredido em toda sua vida.
Marcadores: amor, paixão adolescente, palavras mudas, pequenos textos, poemas de amor, textos poeticos
30 Comentários:
texto lindo. E profundo...Aliás, vindo de voce nada disso é novidade.
Beijo da Gabi
Agressões simbólicas. Metafóricas. Gostei! Abs.
eu assisti uma peça de teatro que tratava justamente desse momentos de silêncio, que não dizem nada, às vezes tudo. E confundem a cabeça da gente!
bjo
"mas conteve a emoção em algum lugar incerto entre a garganta e o peito" - lindo, Fernando!
besos,
Helena
Manter-se impassível diante de um derramamento silencioso de emoções se limita a 2 hipóteses: ou se trata de refinadíssimo fingimento, ou de perda irreversível da capacidade de ouvir com o coração. Como não acredito nessa última, penso que a menina é,de fato, uma grande atriz! Não gostei nada dela. Rs.. Excelente texto! bjos!
detesto saber que casos de amor acabam!
Caro Fernando,
que sufoco este texto...
Realmente: é preciso palavras para as despedidas...
Até...
Um abraço
Fernando quando terminei a leitura do post, senti (estou sentindo ainda) a dor do protagonista desta história.Um texto tão(aparentemente) simples e tão emotivo..um beijo
definir adeus é sempre complicado. mesmo em texto poético. é possível imaginar a expressão estupefata do moço....e é possível ouvir as definições de vida que a moça do texto deixou com ele. o texto, ainda que não mencione, fala de escolha. de decisão. não d efim. mas de outro rumo. é quando todo mundo pára para pensar melhor. gostei muito, Fernando. e continuo aqui, assim, observando. meu beijo, DD.
As vezes palavras não ditas ferem mais do que as ditas.Quando o assunto é o amor,quando o local é o coração...puxa!Como parecemos indefesos...Beijo moço!
Sim, palavras mudam. Mudam.
sobre o que vc comentou no blog, algumas vezes minhas imagens são infância.
É a morte do caminho, experimentamos inermes, mas há o próximo passo, há sempre algo que nos aguarda na esquina mais próxima. Te beijo.
o silêncio pode ser paz e também aflição. que aflição o seu texto. gostei muito. beijo
Olá!
Obrigado pela tua visita ao meu blog, venho cá retribuí-la!
Ao chegar aqui fiquei surpreendido!
Gostei do teu modo de escrita muito bom mesmo, chega a ser intenso. E li por aí num dos comentários, que quando acabamos chegamos e pensar que sentimos a dor dele!
Gostei mesmo muito, continua!
Olá Fernando,
obrigado pela visita. Teu texto me cunhou um desespero, estes abismos silenciosos que se interpõe entre as pessoas. O final é de uma clareza e de uma dor sem tamanho.
abraços
rubens
Olá Fernando!
Deixarei aqui um comentário mudo.
Fui.
CC.
Intenso!!! Essa palavra define bem... o silencio é muito dificil de suportar... disperta curiosidade, adivinhação. Belo texto, fernando, como semrpe..
Muito bom mesmo!
Fiquei deveras envolvido!
Bom fim de semana!
Compreensão e amor precisão andar de mãos dadas para encontrarem a felicidade.
Muitas vezes o que parece ser uma agressão é um sinal de pedido de socorro.
Marcas de ressentimentos não faz bem a ninguém e pessoas especiais e belas não merecem ser contaminadas com tal veneno.
Sou exatamente assim, na hora H me falatam todas as palavras e eu simplesmente viro as costas e vou embora...
O silencio é tao importante como qualquer outra coisa. Eu adoro o silencio! É precioso.
Um beijo*
Agredido bille?
Os sentimentos provocados por uma mulher são incalculáveis, por isso que as amo.
Belo texto.
Um abraço,
Esdras
Gostei!!
Já passei por isso e realmente dói muito!
Até amigo!!
Ass: Guilherme.
blog criativo
escrita cativante
um abraço,
pastora de estrelas
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Ae man, foi lendo seus textos que comecei a criar gosto por tal arte, espero um dia chegar perto deste teu talento.
Abraços.
Fernando
Solidao se cala, como a vida que muda. Fatos amorosos não podem ser reprimidos e quando possível devem estar explícitos, esqueça o pudor das palavras e solte o verbo!!!
Fui contente por saber que ainda irei voltar!!!
Um Abraço,
Marcelo
É o silencio doi, mas existem pessoas que não sabem ou preferm não lhe dar com situações difícies.
Eu prefiro o diálogo!
Abraço.
"*obs. Comentários excluídos = spans.
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial