Baseado em e-mails reais - II
Baseado em minhas correspondências com Leila.
A dor do que não vivemos nos invade como veneno, no início incomoda um pouco, até chegar ao ponto que não resistimos mais. Os álbuns antigos colecionam espaços em branco das fotografias que ainda não completei. A trilha que leva à felicidade é longa, aí inventamos receitas de caminhos curtos que nos curem de desesperos com doses sazonais de infelicidade-saudável. O comodismo é nosso médico. Há perigos nas estradas, L. Não é algo simples seguir por estes caminhos. Sou uma pessoa que se perde com facilidade, ando desencontrado tentando adivinhar exatamente onde não devo parar. Meu andar era apressado, veja que desperdício. Inocente, cheio de sede de chegar ao desconhecido, escolhendo superfícies rígidas que me traziam um conseqüente caminhar depressa. O olhar para trás me tomava essa sensação vazia de que não deixara minhas pegadas, por maior que fosse a firmeza no pé. Eu me tranquei. Construí abrigo em lugares isolados na beira dos caminhos. Sobrevivi. Um dia, destruí o abrigo e suspirei um novo rumo. Tem certos momentos na vida que você tem que se desfazer do que construiu ou viverá para sempre em pequenos lugares isolados. Sim, sim, a solidão também acostuma, L. Parar é regredir. Não fique triste se enxerga estas coisas ruins, nós temos que viver o lado errado para ter certeza que não vamos querer fazer parte dele. Com o tempo você aprende que ou você tenta ensiná-los a ser feliz ou corre o risco que eles te ensinem a não ser. Eles cortam suas asas e te pedem para voar. Não os culpe, agora. Quando a gente quer bem a alguém acabamos por lhe fazer mal de vez em quando, olha só que engraçado. Não tema o que deseja, não há o que dar errado quando seguimos o que realmente queremos. Não me importo mais agora, desaprendi meus destinos e sei que tenho caminhos onde possa afundar meus pés e deixar um olhar atento ao que passa por eles. Já posso ver os pôr- dos- sóis, os olhares felizes, as pessoas e até estes abraços de palavras que caem em sua caixa de e-mail nos meados de noites pacatas de semanas comuns. Não fujo dos tempos ruins. Existem tempestades, não nego, mas vejo sonhos se diluírem em pequenas nuvens. Sim, sim, a gente aprendeu a temer temporais quando vê um simples céu nublado, L. Hoje eu queria ouvir as crianças porque sei que elas sabem como brincar na chuva. Eles não conhecem as virtudes dos jovens. Eles nos enganam de seus próprios enganos, nos fazem não acreditar no que fingem que não acreditam. A vida é um jardim, o desejo é o jardineiro. Razão não deve inibir felicidade. Eles nunca vão entender. O único lugar que se pode ir além é dentro de você, L. Desejar é ter razão.
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24 Comentários:
Meu caro, você tem razão. E como ilumina uma estrada estes seus passos riscados em palavras atentas. Você percebe mais do que tantos com tão pouco, e já aprendi que são raras as pessoas: fico imensamente feliz e grata por ter você agora em meu caminho. Beijo meu.
aiai...ainda estou aqui navegando em suas palavras
Fernando, você é um grande amigo da Leila.
A frase: "Quando a gente quer bem a alguém acabamos por lhe fazer mal de vez em quando, olha só que engraçado". É muito real...
Um abraçoooooo
Érico Fumero
Menino....vc está cada dia melhor!!!
Esse texto é forte, lindo complexo, diz tudo...Faz a gente pensar...
E pensar sempre é bom!!!!
Continue assim, sempre e forte!
Um beijo bem grande da sua amiga que lhe guarda no coração!
Marina
Po, Nando.. entrei aqui pensando em fazer algum comentário sobre seu texto, mas nem sei por onde começar: o texto abrange tantas verdades, e de maneira tão direta, que me intimida! Acho que vou preferir deixar as idéias ecoando aqui na minha cabeça e repetir aqui um adjetivo que eu não canso de atribuir à sua obra: GENIAL! bjos!
Desde já agradeço o comentário k deixou no meu blog. Adicionei-o aos meus links, espero k não se importe!
Beijinhos*
Fernando, gostei muito dos seus textos também. Que bom que passou no Sementeira. Reconhecimentos. Redes. Cavar possibilidades nas pedras...Beijos.
A cada dia você se supera em seus textos e deixa sua marca identidade especial.
É muito legal ver, o quanto, o seus textos têm mostrado o seu processo de autodescoberta.
Se desnudar é muito difícil mas você faz isso de uma maneira tão lírica lúdica poética que faz paracer fácil.
Adorei:
" O olhar para trás me tomava essa sensação vazia de que não deixara minhas pegadas, por maior que fosse a firmeza no pé. "
" Quando a gente quer bem a alguém acabamos por lhe fazer mal de vez em quando, olha só que engraçado. "
" Existem tempestades, não nego, mas vejo sonhos se diluírem em pequenas nuvens. Sim, sim, a gente aprendeu a temer temporais quando vê um simples céu nublado, L."
Abração
Fernando: tava em busca desse seu blog, e acaba que a L. me deu a dica - dizer só uma palavra: CARAMBA!
(e bjs)
Andar para frente sem deixar pegadas...eis um de meus grandes sonhos.Volta e meia olho para trás e busco no passado explicações para oq ue vivo.Mas enfim,a vida dá voltas,e os sonhos sonhados rodam e giram tb...beijooo!
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PS: Os comentarios que excluo são spans (a exemplo deste, acima).
sim fernando. escrever é entregar a própria carne(toda roída). abraços
Fernando, tem coisas que a gente lê e fecha os olhos pra pensar. 'O comodismo é nosso médico.' Não deveria ser, não para um ser rebelde quanto eu, mas há momentos de total acomodação, ainda que não nos cure os males. Beijo!
Fernando, tem coisas que a gente lê e fecha os olhos pra pensar. 'O comodismo é nosso médico.' Não deveria ser, não para um ser rebelde quanto eu, mas há momentos de total acomodação, ainda que não nos cure os males. Beijo!
É como uma prece dita, concretiza. Realiza as verdades absolutas. Sente, acompanha.
Como um anjo que agracia a alma dela; invade os caminhos e se mostra persistente aos impasses da vida: do cotidiano aflito e 'acostumado'.
Em palavras reais mas grandiosa em otimismo até, é ali que se esvai a amizade - sentires, sentimento, servir- como seiva árdua firme viva. Quimera. Sim, parar é regredir ao que não se detém, parar é o não acompanhar, parar é não encontrar os caminhos que se provocam...
Todos nós desejamos contemplar variantes pôr-dos-sóis, todos nós somos realistas a ponto de não fugir dos tempos ruins e do cotidiano ferino: apesar de tentarmos constantemente viver no mundo dos sonhos, dos segredos, da mente que se encerra logo ali...diante das gavetas do destino da conformidade...somos assim...mas, precisamos continuar a sonhar.
'Sonhar um sonho' agradável, viável e construtivo. Sonhar nós mesmos. Por que não, né mesmo?
Lindo texto! Linda L.
Muito bonito, bonito mesmo....
bjo
Como me faz bem vir aqui...
Beijo, Fernando!
Belo texto!!
PAssei com pressa, e volto depois pra ler devagar...rs
Obrigada pela visita...
Bjo
Gostei do seu blog, Fernando, das suas poéticas considerações sobre a vida e relacionamentos, da maneira como usa mensagens e conversas reais - bela idéia.
Obrigada pela visita ao Ovo Azul Turquesa.
Voltarei a sua casa de idéias.
beijão,
Helena
Fernando
Obrigado pela visita ao Casa de Paragens. Gostei destes rascunhos, pseudos-rascunhos, diga-se a verdade. A frase "desejar é ter razão" merecia ser epígrafe de um livro.
abraços
Rubens
Oportunidades não percebidas, sentimentos que definham sem que saibamos de tal existir, brinquedos acumulando poeira, a nos olhar, de todo tristonhos com tanto abandono. Sim, existe de fato um amontoado de vida sendo empilhado num cômodo que exala assepsia e uma pretensa e risível distância de todo sentimento enervado na alma – lugar qualquer situado na epífise óssea.
Sim, nada de seguir abortando o que pulsa, exceto quando desejado.
Anda de seguir fingindo, ou aplacando. Não!
Valeu pela visita no blog! Bom ler você.
Porra Fernandinho..du caralho!!!bacana mesmo esse texto, as vezes precisamos nos lembrar dessas coisas que vc escreveu, que perdemos na correria do dia a dia ...show meu irmãozinho...abraços
Renatão
Acompanhar a sua evolução é algo impressionante. Esse texto consegue transmitir claramente suas "verdades", o seu aprendizado com a forma de agir das crianças foi bem profundo.
Mais um texto, mais um trofeu.
Parabéns.
Esdras
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