Baseado em e-mails reais - III
Estranho seria se eu te escrevesse somente verdades, até a sinceridade se confunde. Queria poder te enviar as mais sinceras verdades que guardo aqui dentro, mas eu descobri que sou mais forte fora de mim. Difícil escrever de amores. Para seguir em certos assuntos é preciso saber exatamente o caminho de volta. Quem dera mudar para um lugar onde eu pudesse inventar lembranças, seria bem mais divertido. Aqui o tempo se torna um juiz injusto, condena-me das memórias que se apegam ao que não aconteceu. Condena-me pelos pecados que deixei de cometer. Condena-me. Não tirei lições do que vivi, aprendi mais com quem eu não fui. Estou rompendo todos os contratos que não fiz, assino em baixo para me libertar de compromissos. Declaro morte às mentiras antigas, temo que elas sobrevivam ao tempo - mesmo sabendo que as que mais me incomodam são também as mais difíceis de me desapegar. Eternas sobreviventes -. Uma mentira-antiga sobrevivente já é uma nova verdade por costume, entenda. Mentir para si é tentar enganar alguém que sabe mais de você do que você mesmo. Cansado, vivo em um silêncio distante. É nessas noites vazias que posso escutá-lo barulhar com intensidade. Ouça. A noite de uma segunda-feira é um dia completamente vazio. Você irá achar que é não dando atenção que se derrota o silêncio, mas não é. Ignorar o silêncio ainda é permiti-lo. Não tenho medo, vejo as voltas compondo o mundo agora, antes só via o contrário. Acho que não ando encontrando novos amores, mas me repetindo neles. Porque amar nada mais é do que uma repetição de sonhos, porque não há amor maior do que repetir um mesmo amor, porque esses nossos amores idealizados nada mais são do que amores próprios em potencial. Sinto-me bem, agora, meu corpo reaprendeu a desgrudar do chão, já piso em superfícies mais altas sem temer a passos em falso. Não me assustam as quedas. Quando desejamos muito algo a margem de erro é como um percursionista da banda, quem deseja presta mais atenção no vocalista. Não quero me prolongar, está tarde e o sono é um sujeito exagerado, tem um péssimo costume de aumentar tudo o que vê. Só preciso achar um significado para completar um silêncio, entenda. Algo que me faça esquecer tudo que ele não me diz, uma ausência de significado fantasioso, uma explicação para uma falta de sentido - acho que esse silêncio queria mesmo de se tornar palavras, mas ele tem medo de se escutar.
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28 Comentários:
Nando, Nando, tanta coisa boa dita aqui, verdades que ficam acenando, repetir um amor é acumular amor: necessário tantas vezes saber o caminho de volta. Tudo isso assim exato, assim tão transparente, nestas palavras todas que nos aquece. Fazem o sentido do silêncio da noite de segunda-feira, na noite da vida. Querido, mais um texto belo. Beijo, beijo.
Aee Fernando, acho que ainda não estou pronto para criticar um texto, contudo, por instinto tento identificar se ele é bom ou ruim, mesmo achando que é relativo dizer se um texto é bom ou não. Com este, realmente, eu não me identifiquei, mas gostei. Ainda curto mais as versões de palavras mudas.
Falou, um abraço.
Obrigado pela visita e comentários deixados por lá. Seus "Rascunhos" são instigadores, provocam outras histórias não fossem eles excelentes histórias também.
abçs
Ilidio
Bonito!
Obrigada pela visita e pelo comentário k deixou no meu blog... Ah, o amor...:)
Beijinhos***
Fernando,
"aprendi mais com quem eu não fui"
Onde você aprendeu a escrever assim?
Um abraço
Oi Fernando, obrigado pela visita.
por aqui, a existência também corrói. abraços
Rubens
memórias que se apegam ao que não aconteceu vestem azul nos dias de chuva.
valeu pela visita no blog.
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
"Para seguir em certos assuntos é preciso saber exatamente o caminho de volta."
"... o tempo ... condena-me das memórias que se apegam ao que não aconteceu. Condena-me pelos pecados que deixei de cometer." "
Uma mentira-antiga sobrevivente já é uma nova verdade por costume ..."
Estes fragmentos são mais do que sínteses filosóficas.
Coalhadas entre as frases do texto, assumem figuras nítidas, apesar do seu carácter de vidro: cristalizações.
há um rasto de verdade nas tuas palavras!
walter
por isso prefiro os escritores anonimos. eles me parecem mais reais.
as segundas tenho insonia. sempre sempre.
um abrá.
Fernando,
Como disse Vitor Freire...Fazendo amizade com a imaginação...é desta forma que começamos a criar textura e formas para os sonhos, os sonhos de amor...estes são instantes de solidão e ausência física, mas uma completa e repleta aliança espiritual: você, o seu amor e a sua imaginação...Viver de acreditar é saber o momento certo de sonhar e de expressar a realidade da vida. O silêncio só não escuta mais quando deixamos de sonhar...e quando isso acontece meu irmãozinho...Pode ver que tem um tampão de madeira em cima de você!!!
Fui, Keep Walking!!!
Simplesmente fantástico.
Gostei muito mesmo! Aquilo que dizes é a verdade, simplesmente.
Há textos seus que me deixam sem palavras para comentar, esse aqui é um desses casos...vou me resimir a dizer que é muito bom ler algo assim. Beijo, beijo!
Mito bom, fernando!
Alguns trechos simplesmente me tiraram o fôlego!!! Impressionante, intesno.
Abraço, cara.
Boa noite..Fernando..
Agradeço à visita no Faxina..obrigada pelo comentário..à respeito do meu blog...aguardo visitas...também estarei por aqui....
Um abraço,
Tem um professor meu que vive dizendo que o silêncio fala mais que as palavras...
Estamos todos vivendo de ausências, Fernando. E o silêncio talvez nos marque mais do que mil palavras. E as não-experiências valem mil sustos vividos.
Susto: a ausência tem estado presente em meus escritos atualmente...
Gostei daqui. Me identifiquei. Te favoritei e vou voltar.
Te beijo n´alma!
pra mim nao é dificil so escrever, é dificil sentir.../
é tanta partilha...
tanta...
Olá!
Gostei muito da tua visita ao meu blog e adorei esse teu cantinho.
Em breve irei te linkar por lá, se você assim o permitir.
Vi nos teus links que tem o Carpinejar, eu também o linkei, o blog dele é realmente muito bom.
Beijo carinhoso.
Retribuo a visa, gostei muito também. Esse texto tem belos achados. Coisa de quem sabe dizer, eu admiro isso.
Volto.
Nálu
Quanta beleza...
"barulhar com intensidade..." eis uma alusão ao teu site. um abraço seridoense.
O escritor Miltom Hatoum diz isso: que é impossível contar puramente a verdade, somente ela, nada mais, nada menos. Pq depois q acontece o que é verdade se perde no tempo...
bjo
Gostei de conhecer este blog. Voltarei.
cuide para que suas palavras nao sejam piores que seu silencio....
gosto desta frase.
bjos
Eita Nando!
Que bom que descobriu tanta coisa boa no "Vomitando Imagens"! Orgulho-me de ter te indicado (hehe).
Bjim,
Dani.
PS. Este texto é simplesmente lindo! Esta série está se tornando a minha predileta!
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