terça-feira, agosto 23, 2005

Fabricio Carpinejar


Reserva de Chuvas

"Na escola, zombaram de minha pronúncia torta,
ameaçaram-me com canivetes no recreio.
Assisti a covardia crescer, aquietado no fundo da sala.
Durante anos, contive o veludo áspero da pata,
a soleira da pata, a vogal da pata.
Preparei a vingança pelas palavras.

Roubei o dízimo, enrolei o papel seda
dos versículos para fumar tuas promessas.
Pisei em teu rosto com a luz suja de um livro.
A neblina me perseguiu enfurecida
e não viu que estava nela.

Peço desculpas como uma criança,
as mãos algemadas
na inocência nociva.

Como enganar os gestos?
Minha vontade de abraçar
esgana.

Todos meus erros descendem do excesso,
não da penúria.

Deus, será que tua água
vem da sede do homem?
Será que nossa sede é potável?

As diferenças nos assemelham,
o único vizinho do mar é o abismo.
Estou extremamente perto
e morro distante.
Mora numa morte emprestada.

Cerca-me da cegueira,
tal relâmpago que acende o bosque
para as aves pousarem nele.

Cerca-me da cegueira,
desapegando do que não vi.

Cerca-me da cegueira,
a fidelidade do vento é testada no naufrágio.

Cerca-me da cegueira,
como uma fruta apanhada com os dentes.

Cega-me.
Meu desespero fracassou
ao passar a noite em claro.
Fez amizade com as sombras."

Fabrico Carpinejar

Ps: Mais uma de minhas fontes de inspiração

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4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Carpinejar...adoro.

terça-feira, 23 de agosto de 2005 às 21:18:00 BRT  
Anonymous Anônimo disse...

Olá Fernando!
Ótima seleção do grande Carpinejar!

Bjokas!
Dani.

sexta-feira, 26 de agosto de 2005 às 17:13:00 BRT  
Anonymous Anônimo disse...

Ops não era pra ser anônimo. Foi um lapso.

sexta-feira, 26 de agosto de 2005 às 17:14:00 BRT  
Anonymous Anônimo disse...

Gostei muito do seu blog. Demais. Beijinho!

sábado, 27 de agosto de 2005 às 05:24:00 BRT  

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