A solidão - II
Estendia de pé em frente ao espelho Mariana divagava seus pensamentos de menina imitando o silêncio do seu apartamento. Não que tivesse a intenção de esconder o que pensava, mas mesmo por falta de alguma audiência concreta fora a si própria refletida – já estava bem grandinha para falar com a própria imagem - Mantendo a ponta do nariz achatada à face do espelho, olhava atenta ao seu mesmo olhar atento que por sua vez voltava atenção ao espelho que refletia seu olhar e assim por diante. Lembrava, quando pequena, se distraia com este artifício-mágico do infinito de repetições que possui um espelho. Se ver refletir era algo fascinante. O vidro da mesa de jantar da sala então era inusitado: com seus joelhos numa cadeira alta observava ao teto da casa projetado, como se existisse um mundo do avesso sob si. Seu sonho era pisar naquela imagem como se fosse um chão diferente, um lugar ao contrário. Como deveria ser divertido, pensava. Mas com doze anos de idade esses encantos acabaram, um espelho apenas isso: um espelho.
Voltou ao quarto olhando sem animar algum dos seus brinquedos espalhados pelo chão que já tinham sido gasta toda diversão. Ainda era cedo, teria algumas horas até que fosse noite, horário milagrado pela chegada de seus pais. Iria ter lasanha para o jantar , avisava a Lurdes, preparando à massa em sua frente na cozinha – o que teria dispensado o aviso- recomendando que não comesse o biscoito que roubara da dispensa para não perder o apetite. Mas não queria esperar para comer, a hora da tarde que sentia mais fome e não era só fome de comida. Era fome de algo diferente. Fome de coisa. Fome de vento. Fome de. Na verdade, não queria tanto lanchar, queria mesmo ir andar de patins. Mas não gostava de ir sozinha, temendo ao seu desjeito de principiante, que fazia se sentir observada por todos quando descia ao playground do prédio, repleto de meninos de sua idade em férias como a si. A Lurdes estava meio ocupada com a lasanha para lhe fazer companhia além de que não era muito adequado há uma menina da sua idade ir brincar acompanhada dela, como se fosse uma babá. A mãe ficava doida de preocupação quando via que não tinha companhia para brincar, não conseguia fazer amigos; felicidade foi tamanha quando a psicóloga aconselhou um animal de estimação. Sua vida quando pequena era aquele cachorrinho a quem chama de Murfy, sua melhor amizade. Chegava do colégio em disparate ao seu encontro, arremessando a mochila sem interromper a corrida para abraçá-lo. Mas nessas horas, mesmo tendo o amigo ao seu lado, não se conformava muito bem com sua presença. Não era simplesmente de um cachorro que precisava, talvez sua analista tivesse se enganado. Ela queria alguém pra andar de patins e isso Murfy não podia fazer. Ele só sabia mesmo fazer as mesmas brincadeiras como qualquer outro animal de estimação.
Na varanda observava os meninos que jogavam bola, um deles não era do seu mesmo prédio, estava certa disso. Mas o outro tinha se mudado agora a pouco e era o predileto dela na vizinhança. Não que o conhecesse, mas o gostava de observá-lo. Seria seu amigo um dia, desejava. Mas não sabia como forjar uma aproximação dele ou de ninguém, não tinha o segredo de fazer amizades, tinha crescido uma menina ruim-de-amigos e também não tinha idéia a quem perguntar como se aprende. Em frente à tv da sala, esperava o sono lhe vencer depois de ter acabado mais um pacote de biscoitos enquanto não começava a novela que mais gostava. Naquele horário ela podia se distrair com a companhia dos personagens e esquecer um pouco o silêncio do apartamento. Mas enquanto não chegava a hora ficava imaginando como seria conhecer os meninos que estavam na quadra naquele dia. O pequeno que ela gostava, principalmente. O que diria a ele? Vai ver nem sabe o seu nome, imaginava. A menina da cobertura todos conheciam: Júlia, era a que fazia as reuniões dos da sua idade em sua casa, sabia disso mesmo sem nunca ter participado. A do terceiro era a mais bonita, Raquel, doze anos, cara de quinze. Mas ela era só mesmo uma pessoal normal. Uma menina, comum. A Mariana.
Naquela noite então, foi o pai o primeiro a chegar. Nem sabia que voltaria neste dia já de viajem depois de estar fora mais de uma semana. Despertou-a ainda no sofá murmurando em seu ouvido com seu instinto paterno-cauteloso "Minha filha linda... Como você está?" Seus olhos abriram em atenção à voz do pai. Às vezes, nesses momentos desejava lhe dizer muitas coisas. Falar-lhe dos meninos do prédio, lhe contar do silêncio do apartamento e do seu desjeito para patins. Por muitas vezes hesitava ao rondar seus olhos na espera de sua resposta. Mas Mariana, como qualquer filha-única desta idade só sabia mesmo ser adorável. Abraçou-o, sem demora. "Estou bem, papai. E você?"
Voltou ao quarto olhando sem animar algum dos seus brinquedos espalhados pelo chão que já tinham sido gasta toda diversão. Ainda era cedo, teria algumas horas até que fosse noite, horário milagrado pela chegada de seus pais. Iria ter lasanha para o jantar , avisava a Lurdes, preparando à massa em sua frente na cozinha – o que teria dispensado o aviso- recomendando que não comesse o biscoito que roubara da dispensa para não perder o apetite. Mas não queria esperar para comer, a hora da tarde que sentia mais fome e não era só fome de comida. Era fome de algo diferente. Fome de coisa. Fome de vento. Fome de. Na verdade, não queria tanto lanchar, queria mesmo ir andar de patins. Mas não gostava de ir sozinha, temendo ao seu desjeito de principiante, que fazia se sentir observada por todos quando descia ao playground do prédio, repleto de meninos de sua idade em férias como a si. A Lurdes estava meio ocupada com a lasanha para lhe fazer companhia além de que não era muito adequado há uma menina da sua idade ir brincar acompanhada dela, como se fosse uma babá. A mãe ficava doida de preocupação quando via que não tinha companhia para brincar, não conseguia fazer amigos; felicidade foi tamanha quando a psicóloga aconselhou um animal de estimação. Sua vida quando pequena era aquele cachorrinho a quem chama de Murfy, sua melhor amizade. Chegava do colégio em disparate ao seu encontro, arremessando a mochila sem interromper a corrida para abraçá-lo. Mas nessas horas, mesmo tendo o amigo ao seu lado, não se conformava muito bem com sua presença. Não era simplesmente de um cachorro que precisava, talvez sua analista tivesse se enganado. Ela queria alguém pra andar de patins e isso Murfy não podia fazer. Ele só sabia mesmo fazer as mesmas brincadeiras como qualquer outro animal de estimação.
Na varanda observava os meninos que jogavam bola, um deles não era do seu mesmo prédio, estava certa disso. Mas o outro tinha se mudado agora a pouco e era o predileto dela na vizinhança. Não que o conhecesse, mas o gostava de observá-lo. Seria seu amigo um dia, desejava. Mas não sabia como forjar uma aproximação dele ou de ninguém, não tinha o segredo de fazer amizades, tinha crescido uma menina ruim-de-amigos e também não tinha idéia a quem perguntar como se aprende. Em frente à tv da sala, esperava o sono lhe vencer depois de ter acabado mais um pacote de biscoitos enquanto não começava a novela que mais gostava. Naquele horário ela podia se distrair com a companhia dos personagens e esquecer um pouco o silêncio do apartamento. Mas enquanto não chegava a hora ficava imaginando como seria conhecer os meninos que estavam na quadra naquele dia. O pequeno que ela gostava, principalmente. O que diria a ele? Vai ver nem sabe o seu nome, imaginava. A menina da cobertura todos conheciam: Júlia, era a que fazia as reuniões dos da sua idade em sua casa, sabia disso mesmo sem nunca ter participado. A do terceiro era a mais bonita, Raquel, doze anos, cara de quinze. Mas ela era só mesmo uma pessoal normal. Uma menina, comum. A Mariana.
Naquela noite então, foi o pai o primeiro a chegar. Nem sabia que voltaria neste dia já de viajem depois de estar fora mais de uma semana. Despertou-a ainda no sofá murmurando em seu ouvido com seu instinto paterno-cauteloso "Minha filha linda... Como você está?" Seus olhos abriram em atenção à voz do pai. Às vezes, nesses momentos desejava lhe dizer muitas coisas. Falar-lhe dos meninos do prédio, lhe contar do silêncio do apartamento e do seu desjeito para patins. Por muitas vezes hesitava ao rondar seus olhos na espera de sua resposta. Mas Mariana, como qualquer filha-única desta idade só sabia mesmo ser adorável. Abraçou-o, sem demora. "Estou bem, papai. E você?"
2 Comentários:
Talvez a esperança dela conhecer um dos garotos no final fosse grande,
que nem percebi que é só um conto.
parabéns
a única diferença entre mariana e eu..
é o nome..
e.. falo por experiência própria..
isso não é bom..
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