Em uma dessas noites - III
Tinham roubado o seu carro. Puta que pariu.
Estava bêbado demais para lembrar a vaga exata, isso é verdade, mas pela terceira vez que percorrera a toda fila do estacionamento não restava dúvidas. Os guardadores, idiotas, ainda estavam cobrando os cinco reais que acham que tem direito sob as pessoas que deixaram seus veículos no mesmo lugar. Irritadíssimo, se voltou para as costas de um deles e bateu. O murro meio desajeitado pela bebedeira chamou a atenção de todos os outros guardadores que partiram para a briga . Sem se deixar inibir, foi golpeando-os e deixando escapar os insultos:
-Filhos da puta! Roubaram meu carro!
Foi quando um deles tirou uma garrafa partida ao meio e o encarou :
-Vem que eu te furo, vem!
Foi o bastante para Juca dar as costas e num ritmo lento, sem demonstrar medo, voltar para a porta da boate. Se não fosse aquela garrafa, ele ia ver só, pensava consigo. Foi discando o número do pai sucessivas vezes sem que isso interrompesse a caminhada. Ninguém atendia à chamada, talvez porque estava no toque silencioso ou então era mesmo a distorção de sua visão que não o deixava discar o número correto. Não podia ter certeza.
Havia poucas pessoas na porta, às seis da manhã só mesmo a galera do bagaço permanecia lá dentro. Mas foi quando viu o jovem tão bêbado quanto a si saindo meio escorado na porta lateral:
-Chico, Chico! Preciso de ajuda velho!
-O que houve Juca!? Você ta sangrando – Dizia , já deixando com que o susto amenizasse um pouco seu estado de embriaguez.
-Meu carro cara, roubaram! Me leva para casa. - A resposta não foi bem esclarecedora para o fato do colega estar ferido no rosto, mas preferiu não alimentar o assunto .
-Ok! Mas estou sem carro também, precisamos de um táxi – No mesmo momento já olhava se antecipando a busca de algum por perto.
Escorados um no outro, seguiam em meio a rua sem noção de onde conseguir um táxi aquele horário. A vítima do roubo ainda tentava parar, meio que à força alguns que passavam na avenida, mas nenhum deles estava livre. Ou se estavam, talvez temesses à aparência daquele jovem cheio de sangue e agressividade no chamado
-Para porraaa!
Chico ainda viu um carro de conhecidos passar, mas resolveu não pedir ajuda, da mesma forma que os mesmos também não se ofereceram para ajudar. Ao voltar sua atenção para o colega, foi tamanha surpresa notar que ele havia parado um ônibus e já subia as escadas sem dar aviso prévio. O que pensa que está fazendo? Nunca tomou ônibus na vida...
-Volta aqui Juca! – E assim foi subindo meio sem saber o que fazer com o colega louco-varrido num ônibus cuja direção ainda iria descobrir no caminho. Enquanto tentava se levantar da queda que tomara logo na entrada Juca parecia querer dar ordens ao motorista:
-Esquerda! Esquerda! – Talvez sua bebedeira foi tamanha que ele achava que estava finalmente dentro de um táxi. Só que o cobrador fazia expressão de quem não estava gostando nada da confusão logo no começo de seu expediente.
-Velho, melhor agente descer. Lá embaixo resolvemos. -Dizia para tentar sair o mais depressa daquela situação constrangedora.
Saltaram em algum lugar na Pituba, só que ainda distante da casa do Juca.
-Você não tem alguém que possa te buscar aqui ? – Perguntou Chico segurando-o firme, pois parecia querer cair a qualquer momento.
Em resposta apenas estendeu a mão com o aparelho celular repetindo varias vezes com a voz já bem embolada:
Lig..a pro Thiagggo!
Passou a seu ouvido o telefone quando notou que alguém tinha atendido. E em uma só frase ele resumiu a ligação:
-Thiaguinnnho...Me pegue no Empório Itaigara. Rolou um merda aqui!
Sem precisar esperar para saber mais detalhes o amigo saiu com pressa de si imaginando o que teria se passado desta vez. Como ele pode ainda hoje, com vinte anos arrumar tantas encrencas quando sai de casa? O caminho não era muito longo, depois de ter mudado para o mesmo bairro do amigo de infância, bastava alguns minutos para chegar em sua casa, e alguns mais para chegar ao Empório, onde agora estava pedindo por socorro.
Chico colocou o colega dentro do carro antes de entrar, cumprimentou o motorista baixinho a quem pouco conhecia, e depois de bem acomodado esperou que a própria vítima do roubo contasse a versão e finalmente explicasse os ematomas em sua face. Mas o que nenhum dos dois tinha notado foi que Juca batera a cabeça na entrada e já adormecia.
-Ele apagou! Thiago, ele apagou!
-Relaxa, deixa dormir. Ta comendo água desde as duas da tarde, emendou com a festa à noite. – A resposta não acalmou muito a ele, que ainda olhava assustado para a cara ensanguentada se perguntando se o colega de faculdade realmente estava bem, mas antes que pudesse se pronunciar novamente foi interrompido pelo baixinho mais uma vez:
-Ah! Quando acordar lembra a ele que o carro dele ta lá em casa.
Estava bêbado demais para lembrar a vaga exata, isso é verdade, mas pela terceira vez que percorrera a toda fila do estacionamento não restava dúvidas. Os guardadores, idiotas, ainda estavam cobrando os cinco reais que acham que tem direito sob as pessoas que deixaram seus veículos no mesmo lugar. Irritadíssimo, se voltou para as costas de um deles e bateu. O murro meio desajeitado pela bebedeira chamou a atenção de todos os outros guardadores que partiram para a briga . Sem se deixar inibir, foi golpeando-os e deixando escapar os insultos:
-Filhos da puta! Roubaram meu carro!
Foi quando um deles tirou uma garrafa partida ao meio e o encarou :
-Vem que eu te furo, vem!
Foi o bastante para Juca dar as costas e num ritmo lento, sem demonstrar medo, voltar para a porta da boate. Se não fosse aquela garrafa, ele ia ver só, pensava consigo. Foi discando o número do pai sucessivas vezes sem que isso interrompesse a caminhada. Ninguém atendia à chamada, talvez porque estava no toque silencioso ou então era mesmo a distorção de sua visão que não o deixava discar o número correto. Não podia ter certeza.
Havia poucas pessoas na porta, às seis da manhã só mesmo a galera do bagaço permanecia lá dentro. Mas foi quando viu o jovem tão bêbado quanto a si saindo meio escorado na porta lateral:
-Chico, Chico! Preciso de ajuda velho!
-O que houve Juca!? Você ta sangrando – Dizia , já deixando com que o susto amenizasse um pouco seu estado de embriaguez.
-Meu carro cara, roubaram! Me leva para casa. - A resposta não foi bem esclarecedora para o fato do colega estar ferido no rosto, mas preferiu não alimentar o assunto .
-Ok! Mas estou sem carro também, precisamos de um táxi – No mesmo momento já olhava se antecipando a busca de algum por perto.
Escorados um no outro, seguiam em meio a rua sem noção de onde conseguir um táxi aquele horário. A vítima do roubo ainda tentava parar, meio que à força alguns que passavam na avenida, mas nenhum deles estava livre. Ou se estavam, talvez temesses à aparência daquele jovem cheio de sangue e agressividade no chamado
-Para porraaa!
Chico ainda viu um carro de conhecidos passar, mas resolveu não pedir ajuda, da mesma forma que os mesmos também não se ofereceram para ajudar. Ao voltar sua atenção para o colega, foi tamanha surpresa notar que ele havia parado um ônibus e já subia as escadas sem dar aviso prévio. O que pensa que está fazendo? Nunca tomou ônibus na vida...
-Volta aqui Juca! – E assim foi subindo meio sem saber o que fazer com o colega louco-varrido num ônibus cuja direção ainda iria descobrir no caminho. Enquanto tentava se levantar da queda que tomara logo na entrada Juca parecia querer dar ordens ao motorista:
-Esquerda! Esquerda! – Talvez sua bebedeira foi tamanha que ele achava que estava finalmente dentro de um táxi. Só que o cobrador fazia expressão de quem não estava gostando nada da confusão logo no começo de seu expediente.
-Velho, melhor agente descer. Lá embaixo resolvemos. -Dizia para tentar sair o mais depressa daquela situação constrangedora.
Saltaram em algum lugar na Pituba, só que ainda distante da casa do Juca.
-Você não tem alguém que possa te buscar aqui ? – Perguntou Chico segurando-o firme, pois parecia querer cair a qualquer momento.
Em resposta apenas estendeu a mão com o aparelho celular repetindo varias vezes com a voz já bem embolada:
Lig..a pro Thiagggo!
Passou a seu ouvido o telefone quando notou que alguém tinha atendido. E em uma só frase ele resumiu a ligação:
-Thiaguinnnho...Me pegue no Empório Itaigara. Rolou um merda aqui!
Sem precisar esperar para saber mais detalhes o amigo saiu com pressa de si imaginando o que teria se passado desta vez. Como ele pode ainda hoje, com vinte anos arrumar tantas encrencas quando sai de casa? O caminho não era muito longo, depois de ter mudado para o mesmo bairro do amigo de infância, bastava alguns minutos para chegar em sua casa, e alguns mais para chegar ao Empório, onde agora estava pedindo por socorro.
Chico colocou o colega dentro do carro antes de entrar, cumprimentou o motorista baixinho a quem pouco conhecia, e depois de bem acomodado esperou que a própria vítima do roubo contasse a versão e finalmente explicasse os ematomas em sua face. Mas o que nenhum dos dois tinha notado foi que Juca batera a cabeça na entrada e já adormecia.
-Ele apagou! Thiago, ele apagou!
-Relaxa, deixa dormir. Ta comendo água desde as duas da tarde, emendou com a festa à noite. – A resposta não acalmou muito a ele, que ainda olhava assustado para a cara ensanguentada se perguntando se o colega de faculdade realmente estava bem, mas antes que pudesse se pronunciar novamente foi interrompido pelo baixinho mais uma vez:
-Ah! Quando acordar lembra a ele que o carro dele ta lá em casa.
3 Comentários:
Ficou bala... você bem que podia fazer aquela da ZION, da multa!! hehehehe
DeRtHeLoS - Rock Band
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Conseguir viajar no seu texto e mergulhar na história. Fantástica.
Parabéns.
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