quarta-feira, novembro 11, 2009

Vanessa Bencz

Relato de um sol eterno


A primeira pessoa que vejo, ao abrir os olhos pela manhã, é a minha irmã mais velha. Dividimos o mesmo quarto há 23 anos. Ela dorme na cama à minha direita, como se fosse meu braço direito, meu leste. Ela me amanhece.
Em pequena, eu tinha dificuldades para pronunciar seu nome. Me acostumei a chamá-la por uma simples sílaba: Di. Só eu a chamo assim, ela só atende ao apelido quando é dito pela minha voz. A alcunha necessita de tom musical, carga emocional e um riso no canto da boca que apenas eu sei dar.
Di é dois anos mais velha que eu. Quando eu tinha seis anos, minha tia fez para mim a fatídica previsão que os parentes sempre fazem para adivinhar as crianças da família:
- Essa menina vai dar baixinha. Sua irmã mais velha, não. Vai dar moça alta, de pernas compridas.
Escondi-me ainda mais na baixa estatura e na franja loira. Di era criança alta, bonita e precoce. Criança irreal de filme estrangeiro. Criança que sabe conversar sobre a previsão do tempo, o governo Collor e a queda da bolsa de valores. E eu mal sabia soletrar meu próprio nome. Tinha dificuldades com a letra s.
Tornei-me uma pré-adolescente tímida e egoísta. A lição de solidariedade veio pela minha irmã. Certa vez, no colégio, meus colegas riam de mim por um motivo que não lembro mais. Di chegou, fez um sermão com dedo em riste, e as crianças se calaram. Exceto por um menino gorducho e feioso, que teimava em continuar rindo. Di deu-lhe quatro murros na orelha, e o moleque se calara. Tempos depois, eu faria o mesmo pelo meu irmão mais novo.
No começo da fase adulta, Di precisou fazer uma cirurgia de emergência. Fui visitá-la no hospital e, ao vê-la na cadeira de rodas, desabei num choro frenético e desmaiei de pressão baixa. Saímos juntas do hospital, cada uma em sua cadeira de rodas.
Hoje em dia, Di e eu temos a mesma altura. Nós somos o mesmo território vasto de lembranças. Nossos sonhos se misturam de noite e nossa telepatia se entrecruza durante o dia. Di me amanhece.


Vanessa Bencz 

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6 Comentários:

Anonymous auama disse...

vlw ajudou no meu trabalho eu imprimi e nao coloquei treu nome bjoos

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010 às 09:17:00 BRST  
Anonymous Anônimo disse...

Muito bom!

domingo, 23 de maio de 2010 às 09:49:00 BRT  
Anonymous Anônimo disse...

bons textos

segunda-feira, 7 de junho de 2010 às 12:09:00 BRT  
Blogger Liss' disse...

Textos maravilhosos, de verdade digo porque sei como é bom escrever. Parabéns.

terça-feira, 24 de agosto de 2010 às 20:05:00 BRT  
Anonymous Anônimo disse...

poxa adorei, naum tenho esse relacionamento com minha irmã mas nova, axo q é por minha causa, pois sou muito ciumenta, mas ela recebe mais atenção mesmo por ser mais nova e se aproveita disso

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011 às 14:13:00 BRST  
Anonymous Anônimo disse...

oooooooooooooooooo

sexta-feira, 16 de março de 2012 às 11:41:00 BRT  

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