sábado, setembro 05, 2009

Latas

Como uma antiga coleção de latas. Numerosa. Refrigerantes, cervejas importadas, fertilizando a ambição ainda juvenil. Organizadas, compartilhando o pedaço de conquista, a lata rara, diferente, esmero em cada uma no superior da coleção. O brilho. O anseio de acumular sem razão, aglomerar, colecionar sem haver fim premeditado: ao contrário do álbum de figurinhas, onde a ultima sempre limita o objetivo do colecionador, como se a conquista atingisse limite de tamanho máximo. A coleção sem regra, sem número, latas, ninguém sabe ao certo quantas estão na prateleira, muito menos a quantas chegar. Apenas estão, cada dia expandidas, numerosas, orgulhadas. E por um momento, se a janela está aberta demais, um esbarro mais forte na estante velha, ou uma lata é retirada de baixo, um descuido, um instante, e todas vão ao chão, espalhadas, feridas. O ruído que silencia. A pausa.

Sou como uma velha coleção de Latas: se me desarrumam, sei exatamente como me re-organizar. Mas dá trabalho.



Fernando Palma, Setembro de 2009





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